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Manual de Sobrevivência 2026: Estratégias Práticas para Adultos com TDAH e Autismo

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Com o aumento expressivo dos diagnósticos tardios de TDAH e Autismo na vida adulta, a comunidade médica alerta: entender o diagnóstico é apenas o primeiro passo; o desafio real é o manejo diário.


Diante disso, o Dr. Matheus Trilico, neurologista referência em TEA e TDAH em adultos, elaborou o “Manual de Sobrevivência para 2026”. Este guia não é sobre “consertar” quem você é, mas sobre equipar seu cérebro com as ferramentas certas para viver em um mundo que não foi desenhado para ele.


Segundo o Dr. Matheus Trilico, muitos adultos iniciam o ano com uma sensação de “dívida moral” por não conseguirem manter a consistência exigida socialmente.


“A proposta deste manual é substituir a culpa pela estratégia. Quando entendemos que a inconsistência não é falha de caráter, mas uma oscilação de função executiva, paramos de lutar contra o cérebro e começamos a negociar com ele”, afirma o especialista.


Abaixo, o neurologista detalha os quatro pilares de sobrevivência para 2026, com ações práticas para implementação imediata.


1. A Rotina como Estrutura de Apoio


Para o cérebro neurodivergente, a rotina não deve ser uma prisão rígida, mas uma estrutura de segurança que reduz a necessidade de tomada de decisão constante. O Dr. Trilico explica que o objetivo é automatizar o básico para poupar energia para o complexo.


A Tática de Sobrevivência: “Ancoragem de Hábitos” Em vez de tentar criar uma rotina do zero em 2026, o Dr. Matheus sugere a técnica de ancoragem: “Nunca deixe um hábito novo solto no ar. Amarre-o a algo que você já faz”.


• Exemplo Prático: Se você precisa tomar medicação e sempre esquece, coloque o frasco dentro da xícara de café que você usa toda manhã. O hábito de tomar café (âncora) puxa o hábito da medicação.


• A Regra dos 2 Minutos: Nos dias difíceis, a meta não é fazer o exercício todo, é apenas “colocar o tênis”. Reduza a barreira de entrada para vencer a inércia inicial típica do TDAH.


2. Ambiente Adaptado: Reduzindo o Esforço Mental


“O ambiente é a primeira linha de tratamento que não envolve remédios”, destaca o Dr. Trilico. Para 2026, a ordem é parar de organizar para deixar a casa bonita e começar a organizar para ela funcionar. Pessoas com TDAH podem esquecer o que não estão vendo (se está na gaveta, deixa de existir), enquanto autistas podem sofrer com bagunça visual excessiva.


A Tática de Sobrevivência: “Pontos de Uso” e “Cestos de Organização Rápida”. O manual sugere abandonar o perfeccionismo. A casa tem que servir você, e não o contrário.


• Cestos de Organização Rápida: Espalhe cestos ou caixas pela casa para colocar tudo o que está fora do lugar. Isso limpa a bagunça visual rapidamente sem exigir a energia de guardar cada item na gaveta certa na hora.
• Tenha Itens em Dobro: Pare de andar pela casa procurando o carregador de celular ou a tesoura. Tenha um item essencial em cada lugar que você usa (um carregador na sala, um no quarto). Isso elimina a distração de ter que procurar seus objetos.


3. Planejamento Realista: Focando no Curto Prazo


Uma das maiores dificuldades do TDAH é calcular quanto tempo as coisas levam e sentir a passagem das horas. O Dr. Matheus Trilico recomenda abandonar o planejamento anual detalhado, que gera ansiedade, e focar em períodos curtos, como “apenas esta semana”.


A Tática de Sobrevivência: “Tornar o Tempo Visível” e o “Método 1-3-5”


• Use Relógios Visuais: Prefira relógios de ponteiro ou timers visuais (aqueles que mostram uma fatia colorida diminuindo) em vez de relógios digitais. Ver o tempo “ocupando espaço” no relógio ajuda o cérebro a entender que a hora está passando.
• Método 1-3-5: Em dias cheios, sua lista de tarefas deve ter apenas: 1 tarefa grande/urgente, 3 tarefas médias e 5 tarefas pequenas (como responder um e-mail).

“Ao limitar a lista, evitamos aquela paralisia de olhar para um monte de afazeres e não saber por onde começar”, ensina o médico.


4. Corpo e Cérebro: O Básico Não Negociável


Muitas vezes, o que parece ser uma piora nos sintomas de TDAH ou Autismo é apenas um corpo exausto. O Dr. Matheus alerta que autocuidado não é “dia de spa”, mas sim manutenção biológica para evitar o colapso.


A Tática de Sobrevivência: “Combustível Mínimo” e “Alarme Reverso”


• Alarme Reverso (Para o Sono): Em vez de colocar alarme apenas para acordar, coloque um alarme para começar a se preparar para dormir. O sono irregular é o maior inimigo da regulação emocional.
• Hidratação Visual: Pessoas neurodivergentes frequentemente não sentem sede ou esquecem de beber água. Mantenha uma garrafa sempre no seu campo de visão. Se você não vê a água, você não bebe.
• Pausas sem Culpa: Respeite seus limites sensoriais. Se o barulho ou a luz estão incomodando, sair do ambiente por 5 minutos não é frescura, é estratégia para não ter uma crise mais tarde.


5. Preservação de Energia: Respeitando seus Limites


Para adultos no espectro autista e com TDAH, a interação social e o excesso de estímulos custam caro. O Dr. Trilico reforça que 2026 deve ser o ano de respeitar os próprios limites, reduzindo o esforço excessivo para parecer “disponível” o tempo todo.


A Tática de Sobrevivência: “A Pausa de Segurança” e o “Kit de Conforto” Não espere chegar ao limite da exaustão para agir. Tenha planos prontos para se proteger.


• Kit de Conforto (Sempre na mochila): Fones de ouvido (para abafar o som), óculos escuros e algo que ajude a aliviar a tensão (como uma bolinha antiestresse). Usar esses itens antes de se sentir mal ajuda a aguentar mais tempo em lugares cheios.
• A Técnica da Pausa (Ganhe Tempo): Pessoas com TDAH tendem a dizer “sim” por impulso e se arrepender depois. Autistas podem ter dificuldade em negar na hora. A regra é: nunca responda na hora. Use frases padrão para ganhar tempo de pensar:
• Para convites: “Vou verificar minha agenda e te confirmo até amanhã, pode ser?” (Isso te dá tempo de avaliar se você realmente quer e consegue ir, sem precisar se justificar na hora).
• Para interrupções: “Posso te responder sobre isso depois? Preciso terminar um raciocínio aqui.”


“Sobreviver a 2026 com qualidade não exige que você se torne outra pessoa. Exige que você seja, finalmente, um especialista em si mesmo. Use essas ferramentas como muletas: não para se vitimizar, mas para ir mais longe com menos dor”, conclui o Dr. Matheus Trilico.


Sobre o médico:


Dr. Matheus Luis Castelan Trilico – CRM 35805PR, RQE 24818.
• Médico pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA);
• Neurologista com residência médica pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR);
• Mestre em Medicina Interna e Ciências da Saúde pelo HC-UFPR
• Pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista
Mais artigos sobre TEA e TDAH em adultos podem ser vistos no portal do neurologista: https://blog.matheustriliconeurologia.com.br/

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